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sábado, 27 de novembro de 2010

A necessidade do professor pesquisador


Por Waldeci Moraes

 

“... formar é muito mais do que puramente treinar o educando no desempenho de destreza...”  (Paulo Freire)


Este artigo tem como objetivo, refletir de forma crítica, a metodologia, dinâmica e compatibilidade do educador-pesquisador na questão da transmissão do conhecimento, tendo presente o contexto histórico que estamos vivendo, e o perfil do novo aluno frente às novas bases tecnológicas do mundo globalizado, que exigem a formação de um profissional mais autônomo, crítico e reflexivo. 



Neste início de século, as exigências colocadas pelo avanço do conhecimento científico e da tecnológica, combinadas com um modelo econômico, que exige a competição mercadológica levada aos extremos, à educação tem sido alvo de várias discussões em todos os setores da sociedade, principalmente nos meios governamentais, que pretendem trazer em seus projetos para o setor esses modelos econômicos, assim como os modelos educacionais pré-existentes em países economicamente estáveis. A positividade de todo esse debates é, nunca se discutiu tanto educação antes como na atualidade. O período histórico que estamos vivenciando, nos coloca em um cenário político globalizado com paradigmas cada vez mais complexos, que exigem um processo de desenvolvimento intelectual mais acelerado. Tal procedimento nos conduz a um processo de adaptação relevantemente dinâmico e inovador no contexto socializado. Mas, qual é o significado disso tudo na política educacional? Que relação existe entre este acelerado e crescente acúmulo de conhecimento com a formação profissional do educador e a sua atuação no âmbito escolar? 
Nesses tempos atuais o professor enfrenta um grande desafio, como tornar interessante e dinâmico a arte de educar em frente à exigência do avanço unilateral do conhecimento. Exige-se uma educação atualizante e expansiva, uma educação direcionada para a formação de um homem novo, consciente de suas capacidades, detentor de senso crítico, transformador de sua realidade e criador de uma nova sociedade. Por isso tudo o papel do educador tornou-se muito mais importante nesse conflito de prioridades como aquele, que no caso da emancipação educacional, terá a responsabilidade de “conduzir” o iniciado na questão referencial elucidativa, do aprendizado e da conscientização do poder “libertador” do conhecimento, e de sua capacitação como pessoa e personalidade.  
  
A conscientização do educador quanto a sua responsabilidade
 
Se a escola tem um importante papel no fator educativo, o que não dizer do professor? A problemática atual da educação no Brasil é certamente, o reflexo das características dos diversos períodos da educação brasileira, na qual a relação contraditória não condiz com as realidades econômicas, sociais e as transformações culturais e políticas pelos quais o Brasil tem passado nos últimos tempos, além de que as lutas pelo poder político, onde a educação é usada como instrumentos ideológicos de dominação e submissão, permanecendo e fortalecendo a desigualdade social. Neste caso, a educação certamente se opõe à noção de bem comum da sociedade incorporada a uma manifestação retrógada, totalmente ultrapassada, segregadora, capitalista intelectual e inútil. Método que condiciona o trabalho pedagógico-educativo a uma relação de que: “quem sabe manda, quem não sabe obedece”. Desta forma, a função social do saber, é despolitizar, é alienar o homem de si próprio e em conseqüência transformá-lo em objeto de produção da máquina estatal. 

Portanto, os paradoxos entre educação e a estrutura sociológicas são ratificadas, e na medida em que isto acontece, a política desagregadora emergente reúne e orienta suas metas de poder sobre e acima do cidadão comum, e nesse caso seu alcance de possibilidades de modificações é inteiramente obstruído, negado pelo próprio poder estabelecido para garantir seus direitos mais básicos.

O professor, no que lhe concerne o seu papel, tem por objetivo eliminar tais obstáculos, daí que o mesmo tem de ter plena consciência da sua importância nessa “queda de braços”, no referencial Emancipação X Submissão. Sua metodologia, assim como suas limitações ao repassar um ensino qualitativo, é um produto de uma sistematização arraigada em nossa sociedade. Ação esta, que confere ao mesmo uma total desqualificação perante a profissionalização educativa, e o que o torna refém de uma situação comprometedora, ou seja, incapacitação no que concerne ao repasse do conhecimento. 

Estas questões de ensinamentos e metodologia, assim como seu despreparo, certamente se devem ao fato de que tais qualidades, que deveriam ser inerentes a sua condição profissional, na verdade arremete a uma condição curricular única, a falta de pesquisas e afins, algo que é  de importancia vital e condizente com sua profissão. A pesquisa (seja ela de cunho científica ou acadêmica), e a garantia de que um ensino de base será ministrado, e por um lado, a emancipação intelectual do educando será alcançada; de outro, a submissão, a alienação e o recrutamento pela falta de conhecimento do individuo, terá um fim. Tudo isso por que a pesquisa dará respaldo total ao educador, no que diz respeito a educar para quem, como e para o quê. 
A partir dessa conscientização e capacitação do educador, se estabelece o jogo dúbio ideológico político de uma socialização educacional, que se perpetua até nossos dias, como intencionalmente promulgada como neutra, apolítica; entretanto, voltada para a conservação de um pacto social hierárquico, elitista e opressivo, neste sentido, pode-se justificar o descaso e até mesmo lacunas, que se evidenciam especialmente, quanto à educação do povo, ao longo da história de uma época para outra. Em contrapartida o educador-pesquisador, que terá o infinito papel de educar para emancipar, tendo como base suas certezas e verdades, baseadas no conhecimento amplo e irrestrito da pesquisa, preenchendo as lacunas preexistentes deixadas pela ignorância e pelo irracional. 
 
A conceituação da importância da pesquisa é de que o pesquisador através da mesma poderá ampliar seus conhecimentos, objetivando e aprimorando-os.  Ao adquirir o conhecimento o educador terá a necessidade de expandi-lo, entende-lo na sua integridade e em seus pormenores. Dessa forma todo e qualquer questionamento, seja seu ou de seus educados, será respondido com exatidão e pormenorizado até sua compreensão final. Além de que torna o educador uma pessoa mais conceituada em relação à realidade, permitindo assim ao mesmo, uma visão mais ampla e eficiente ao empregar tais conhecimentos na remodelação de tal realidade.


 É aqui também, o momento de colocar as idéias de Paulo Freire (1985), e como ele, fazer da educação um ato político, onde alfabetizar-se implique, antes de tudo, aprender a ler o mundo compreendendo seu contexto e ser capaz de “escrevê-lo” ou de “reescrevê-lo”, quer dizer, de transformá-lo através da prática consciente. 

 Na verdade, a idéia de Paulo Freire, representa uma tentativa explícita de formulação de uma amplitude do conhecimento, através da ruptura homem-objeto, para uma relação homem-sujeito que constrói e reconstrói sua história, não de maneira singular, mas pluralitária, e só através do conhecimento amplo e verdadeiro se obterá essa capacitação emancipativa educacional.  
            No Brasil, é um fato que se fazer pesquisa está muito aquém da realidade. Em um sistema politicamente incorreto, a pesquisa que representa desenvolvimento mental e cultural, seria como um “tiro no próprio pé”. Nas questões educacionais então, a pesquisa simbolizaria, ou melhor, há de ser pensar a questão da educação como princípio de dignidade humana, e como um ato social de preparação do indivíduo para participar de forma consciente, onde educar-se signifique construir um mundo mais justo e idealizado na igualdade de direitos e de deveres.
O educador como crítico de si mesmo
Desta forma o professor é alguém que precisa ser um leitor de si mesmo, refletindo, sistematicamente, sobre as suas práticas, o seu fazer pedagógico; o que sabe e o muito que desconhece as suas contradições enquanto educador, os seus receios e inseguranças; para que possa vislumbrar as suas faltas e buscar formas de supri-las. É partindo desta leitura, leitura crítica de si, que poderá em exercícios de si mesmo, executar a leitura do mundo que o cerca. 
          Sob este olhar podemos destacar a importância do educador enquanto pesquisador. Pesquisador porque investiga/reflete sobre si e a sua prática cotidiana; porque lê; dialoga com autores, de forma crítica, analisando sempre, na busca de elucidar as questões complexas que perpassam a sala de aula. Buscamos em FREIRE  a inspiração para nos complementar:
“Fala-se hoje, com insistência, no professor pesquisador. No meu entender o que há de pesquisador no professor não é uma qualidade ou uma forma de ser ou de atuar que se acrescente a de ensinar. Faz parte da natureza da prática docente a indagação, a busca, a pesquisa. O de que se precisa é que, em sua formação permanente, o professor se permita e se assuma, porque professor, como pesquisador.” FREIRE (1997).

Mas ser investigador implica no ser intensamente curioso a fim de poder despertar e provocar a curiosidade dos próprios alunos, assim como nos fala, mais uma vez, Paulo Freire. 

Acredita-se que o primeiro passo no “caminho” da emancipação seja estimular o indivíduo para que o mesmo acredite que pode descobrir a “verdade das coisas”. A leitura e a escrita em sua vida será sem dúvida, a mola inicial que proporcionará tal arrancada rumo a essa perspectiva. Mas isso tudo, dependerá exclusivamente do modo como tal indivíduo será “conduzido”. Mostrar-lhe que pode e lhe é dada essa oportunidade, é emergencial. 

É muito importante a posição do educador, pois o mesmo não deve menosprezar sua responsabilidade na vida do educado. O mestre jamais deve esquecer que essa pessoa é um livro em branco, e que, portanto, suscetível a qualquer tipo de idéias. Nesse caso a responsabilidade de “escrever” as regras de o bom viver, da ética e, sobretudo do uso da razão, será total do educador.


Discutir as leis e o funcionar das coisas faz parte de um currículo vivo que atrai o aluno. O educando (seja adulto, adolescente ou a criança), precisa ser atendido na escola por um currículo amplo, de base e utilitário. Discutir sobre relacionamento humano e educação faz parte da função do professor. Portanto, se faz necessário que a pesquisa seja o supra-sumo do evangelho do educador, pois só através da pesquisa e que o mesmo poderá ter em profundidade o conhecimento de si próprio e do mundo ao seu redor.
 
A profissionalização como dificuldade pedagógica
 
No Brasil, a profissionalização do educador é uma inconstante, isso sem falar em suas condições de trabalho que é degradante. Pois além de ter que lidar  em defesa do aprendizado do aluno e abrir mão forçosamente de uma posição historicamente instituída, como aquele que tem a capacitação de emancipar intelectualmente o individuo, a sua boa vontade “esbarra” na questão da sua desvalorização profissional e baixo salário. Devido tais circunstâncias o professor é obrigado a ter outras atividades paralelas para sobreviver, o que o deixa sem tempo disponível para efetuar pesquisas.  Daí sua incapacitação evidente em relação a ministrar uma disciplina mais elaborada e a apresentar uma base curricular mais eficaz. 

Existe também no caso do professor, uma mitologia amplamente divulgada como aquele que detém o conhecimento. Essa sobrecarga de responsabilidades, muitas vezes está além da suas possibilidades, ou seja, a capacitação do professor torna-se ineficiente em face da angustiante responsabilidade de ter que educar o aluno academicamente, biologicamente e moralmente (sendo estas duas últimas educações obrigatoriamente de base familiar, impostas ao educador através de uma lei não escrita socialmente). Tais circunstâncias, apesar de suas capacitações tornam o educador delimitado no que concerne a educar. 

Do ponto de vista crítico, é impossível negar a natureza benéfica da pesquisa no processo educativo, quanto negar o caráter educativo no processo da pesquisa. (...), ou seja, é impossível ter de um lado uma educação utilitária, que se diga a serviço da humanidade, dos seres humanos em geral sem uma base educacional aprofundada, ampla e irrestrita; de outro, uma prática pesquisadora esvaziada de significação educativa, sem quaisquer respaldos científicos ou aprofundadas. (...) Compreendemos então facilmente, não ser possível pensar, sequer, a educação, sem que se faça da pesquisa uma prática curricular crescente nas instituições educacionais.

Assim, a pesquisa é o método fundamental enquanto sustentabilidade educacional, para uma compreensão mais eficaz das disciplinas e para a formação fundamental, média e acadêmica do aluno. Nesta direção, apontamos o método de formação da consciência crítica, que passa por cinco processos distintos, que podem ser assim descritos: investigação, conhecimento, reflexão, desenvolvimento e vivência. 

Por se concordar na questão considerarmos os sujeitos em sua complexidade, o educador não pode deixar de lado a pesquisa entre as diferentes áreas do conhecimento, pois só através da mesma é que ele se tornará aquele que é capacitado a “lapidar a mais perfeita das jóias”, o conhecimento. É de natureza biológica, essa indigência humana, essa falta do conhecimento, mas precisamos evidenciar que o que move o mundo é de fato o questionar, pois a necessidade de muitos sobressai a necessidades de poucos, ou a necessidade de um só. A existência do o homem-razão, só depende da boa vontade do próprio homem. Mas como refletia Rousseau (1762), não podemos deixar de percebê-lo também com as sensações, as emoções e os movimentos que também são “partes de todos nós”. É esta singularidade dentro de uma complexidade que nos faz sermos o que somos, e é nesta questão que se atribui ao individuo a justificativa do errar humanamente por falta de conhecimento, mas de elevar-se ao patamar dos deuses ao adquiri-lo. Que se justifica, na visão idílica dos poetas.

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